19 de agosto de 2009

a primavera é a imaginação do inverno

Quem escreveu esta linda frase em cima foi a Tatiana, que conta histórias com imagens. Hibernamos durante o outono e ao longo do inverno. Mas nunca vi uma hibernação tão cheia de tarefas. Mudanças de todo tipo, inclusive de endereço! E junto mudam nosso(s) ponto(s) de vista. Estamos agora em Laranjeiras. Aqui tem muito jeito de bairro. A gente até ganha pastel quando passa pela Tasca do Edgar (no novo ponto, ainda na rua Alice, pois o senhorzinho adorável que sabe cuidar da sua clientela mudou de lugar). Agora que a primavera está chegando é hora de pensar na coisas que brotam e frutificam.

8 de março de 2009

viva o Zé Pereira

Nos escondemos do sol que reluz, implacável, como um olho de Cíclope no centro do céu. Os tamborins e os bumbos ainda ecoam pelas ruas do Rio. Resquícios do carnaval brilham aqui e acolá, grãos de purpurina aninhados nas rachaduras do asfalto. Coisas mínimas, delicadas, relembrando o delírio. Dentro de casa, as coisas buscaram nova moradia, após o vendaval de preparativos para confeccionar, a partir de nada especial, fantasias memoráveis. Lá se vão duas semanas e ainda encontro confetes em lugares tão improváveis como os vasos de plantas na varanda – quem sabe nascerá em breve uma árvore de confetes. Poderei então colher essas alegrias miúdas quando eu quiser e guardá-las para o próximo carnaval.

22 de janeiro de 2009

a verdade da máscara

No documentário inspirador "Pan-Cinema Permanente", de Carlos Nader, Waly Salomão grita, turbilhonante: “Chega de papo furado de que o sonho acabou. A vida é sonho!” Me lembrei da frase de Shakespeare: “We are such stuff as dreams are made on” (Somos feitos do mesmo material de que são feitos os sonhos). Waly, dono de uma "espontaneidade construída”, segundo Antonio Cicero, defendia com versos e veemência a verdade da representação. No lugar da transparência, Waly preferia a “opacidade da máscara” e no filme declara: "Não preciso de verdades. Para viver, você precisa de mentiras". Mentira aqui talvez seja sinônimo de verdade vivida, algo singular, que aparece à medida que cada pessoa cria a si mesma. Waly parece irmão espiritual do dramaturgo Pirandello, para quem a verdade não é algo que existe por si , que antecede sua própria construção. Nesse sentido, somos todos verdadeiros mentirosos, desempenhando os papéis que nós mesmos inventamos. As verdades são infindáveis e múltiplas. "Pan-Cinema Permanente". Lúcida delícia. Retrato preciso de um artista desmedido e dedicado à farsa divina da existência.

Amante da Algazarra

"Não sou eu quemcoices ferradurados no ar. / É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto. / É ela!!! / Todo mundo sabe, sou uma lisa flor de pessoa, / Sem espinho de roseira nem áspera lixa de folha de figueira. / Esta amante da balbúrdia cavalga encostada ao meu sóbrio ombro / Vixe!!! / Enquanto caminho a , pedestreperegrino atônito até a morte. / Sem motivo nenhum de pranto ou angústia rouca ou desalento: Não sou eu quemcoices ferradurados no ar. / É esta estranha criatura que fez de mim seu encosto E se apossou do estojo de minha figura e dela expeliu o estofo. / Quem corre desabrida / Sem ceder a concha do ouvido / A ninguém que dela discorde / É esta / Selvagem sombra acavalada que faz versos como quem morde. "

Waly Salomão